A RELEVÂNCIA SOCIAL DO TRABALHO DAS PARTEIRAS
Paulo Roberto Nogueira Silva*
As parteiras desempenharam um ofício de crucial importância para a humanidade, sobretudo, nos idos do século passado nos lugares mais remotos, onde não haviam um mínimo de acesso via veículo automotor. As heranças históricas das mulheres foram relegadas por conta de um sistema patriarcal que tentaram mantê-las na invisibilidade devido à condição de submissão e de inferioridade atribuída, sobretudo às negras, analfabetas e de classe social desfavorecida. Fenômenos arraigados no cotidiano vivido impedem de reconhecer o legado deixado por essas mulheres que travaram batalhas em várias frentes, em momentos de carência e falta de recursos elas supriam a ausência quase que total de políticas públicas destinadas à população de classe baixa e enveredaram pelos espaços públicos na função de educar, prover e, principalmente, de cuidar.
As relações e sociabilidades construídas pelas parteiras
Em sua maioria mulheres negras, sem subsídios financeiros, sem conhecimento acadêmico, mas com um grande conhecimento adquirido ao longo de anos de exercício do seu ofício, onde são identificadas as redes de relações e sociabilidades construídas por elas, as posições das hierarquias de classe, gênero e raça/etnia, interpretando os significados dos lugares sociais ocupados no espaço público subalterno e realçam a identidade étnica nas memórias sobre os fazeres e saberes ancestrais que foram passados de mãe para filha.
O ofício de partejar
O oficio de partejar faz parte das tradições afro brasileiras, sobretudo, por conta das dificuldades que as mulheres negras viveram no período que foram escravizadas e precisavam sozinhas dar conta desse ofício. Portanto, posteriormente essas mulheres continuaram a se destacar como parteiras detentoras de conhecimentos tradicionais, técnicos e do respeito dado por outras mulheres e suas comunidades, mas sem terem o reconhecimento social e profissional, considerando ser uma atividade não profissional e vista com insignificância e invisibilidade, sendo substituída por outro tipo de assistência mais qualificada, mas muitas vezes desumanizada. As parteiras foram e ainda são mulheres humildes com idade entre 18 e 89 anos, a maioria não é alfabetizada. Apesar disso, desenvolvem o dom de partejar por herança de suas ancestrais desde o tempo em que viviam nas senzalas e eram obrigadas a se virar sozinhas. Dessa forma, por necessidade preservam e mantêm conhecimentos que são passados de geração em geração, atuando em locais em que há extrema falta de médicos e condições de locomoção para hospitais, elas viajavam a pé, a cavalo, arriscam em rios, riachos e enfrentam os desafios da natureza. São mulheres que vão onde a gestante espera pelo toque das suas mãos, pelas rezas e cantos que fortalecem o espírito e suprem a falta de políticas públicas de assistência à saúde.
O legado deixado pelas parteiras
Essas mulheres aprenderam naturalmente e com a prática o trabalho de partejar. Em condições de trabalho precárias se viam na única condição de realizar um trabalho em domicílio. Nas famílias realizavam cuidados à mãe e ao bebê, muitas vezes muito além do parto. Destaca-se a paciência para atender à necessidade de que o parto fosse normal, considerando que não havia outras possibilidades pela total ausência de médicos, falta de hospitais, estradas vicinais sem condições de tráfego, carência de meios de transporte e, sobretudo, falta de ferramentas, instrumentos e até medicamentos. Entretanto, realizavam seu trabalho com desprendimento e a compensação vinha do reconhecimento social individual por parte dessas mulheres, crianças e suas famílias. Os reconhecimentos são pontuais daqueles que souberam de sua história e de uma maneira ou de outra foram beneficiados por elas.
* Mestrando em Relações Étnicas e Contemporaneidades Esp. em História e Cultura Afro Brasileira
Esp. em Educação no/do Campo
Graduado em História
Graduando em Pedagogia
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